De onde virá esta ânsia indomável,
Este turpor de gestos,
Este afagar de ideias puras, e mórbidas
Ao mesmo tempo?
Latejam as letras, uma após outra,
Nos dedos, na voz, na boca, como se fossem
Presos riscando na parede da cela;
Mais um dia de pena cumprido.
De onde virão então os silêncios
tristes, de aves já mortas,
De flores já sem raízes...
Este querer, e não querer, viver sem ti,
Esta vontade louca de te possuir,
Este querer morrer sem ter nunca ter sentido
O gosto amargo da vida?...
De onde virá?
A cadência, a música das palavras
Sem terem papel ou gesto,
sem uma voz onde possam nascer,
Que me enreda, afaga-me ao de leve
E abandona-me depois no egoísmo
Latente em mim...
De onde virá por fim,
Este fingir de mim para chorar depois,
Para depois sentir-me só no silêncio
Que invento...
Na procura de resposta que sou eu mesmo?
MAnuel Neto dos Santos
Desde miuda que carrego comigo um livrinho deste querido senhor. Chama-se "O Fogo, a Luz e a Voz" e o facto é que, tem muitas vezes dado voz ao que sinto.
Bem haja pelas suas palavras.